Dias de Poesia e de Matemáticas

0
COMPARTILHAMENTOS
70
VISUALIZAÇÕES

Ah, esses dezembros, como são diferentes dos outros meses de cada ano. De repente, anunciam que um tempo, que pensávamos longo, é quase findo, provocando espontâneas e delicadas retrospectivas pessoais, reflexões imperativas sobre tempestades e bonanças.

São dados a muita poesia, esses trinta e um dias que fecham o ano para balanço. Quando chegam, nos fazem remexer baús afetivos abarrotados de memórias, marcam reencontros nossos com cartões de amores declarados, fotos de casamentos ancestrais, convites de formaturas, vidros de perfumes que, por superstição juvenil, nos recusamos a esvaziar. E incontáveis bilhetes, escritos à mão, que acalantam nossos corações imperfeitos.

Também gostam de brincar com as matemáticas, os dezembros. Ensinam que a união é de vital importância para conjuntos familiares e de amigos; e que a vida é o resultado da extraordinária intersecção entre tristezas e alegrias. Parecendo calculadoras positivas dos nossos introspectivos universos, chegam, ano após ano, tentando somar presenças e diminuir ausências.

Ah, esses dezembros, como são especialistas em me deixar emocionada além da conta. Trazendo de volta aos jantares aquelas belas histórias de antes, sobre o amor e seu inexplicável poder de curar as dores do mundo. Puxando assunto a respeito de nascimentos, de estrelas iluminando a vida, da essência que por vezes se perde pelos outros meses dos calendários. E as adoráveis lembranças de um senhor de barba branca que trazia bonecas e carrinhos.

Ao Papai Noel, em cartinha que carrego escrita na alma já faz bom tempo, peço que proteja todas as crianças, que a vida lhes permita, na riqueza de sua simplicidade, o maior de todos os presentes, que é conhecer o afeto em família. Que haja escolas acolhedoras para todas, com aulas interessantes e recreios para brincarem e jogarem bola. Sobretudo, que tenham sono tranquilo, com espaço para sonhos.

Para nós, gente grande, peço que aprendamos a reconhecer felicidade nos momentos rotineiros, nos abraços desinteressados, nas conversas com amigos, na atenção com a qual os afetos nos presenteiam sem cobranças. Cada noite nossa, que seja de orações e agradecimentos, de sono tranquilo; cada amanhã, de alegria por seguir compartilhando a vida, de entusiasmo e coragem para melhorar o mundo.

Ah, esses dezembros, como são cheios de significado e importância, feitos de poesia e matemáticas. Chegam de repente, comunicando que o ano é quase findo. E que outro, novinho em folha, está a caminho. Colocando a vida como iluminado ponto de intersecção entre passado e presente, saudades e esperanças, infância e maturidade.

 

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 10/12/21

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *