Detalhes tão pequenos…

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Todo mês de dezembro, desde 1974, acontece algo no Brasil mais certo do que a chegada do Papai Noel: o show do Roberto Carlos na Globo. Garantia de audiência lá em cima, o ritual completou – ininterruptamente – meio século nessa última edição no final do ano passado. Por óbvio, isso se dá graças ao carisma e ao absurdo talento artístico do rei ao longo de todos esses anos. Compositor – na maioria das músicas em parceria com o ‘Tremendão’, amigo de fé, irmão-camarada que morreu em 2022 – Roberto é o intérprete sempre afinado, da maioria das canções que, em algum momento, fizeram parte da vida de todos nós.

Mas vai longe o tempo em que o rei lançava coisas novas e boas. Ou algo que não maltratasse tanto os nossos ouvidos como tem feito ultimamente. Ao longo de uma carreira quase centenária e vivendo esse momento lindo, o filho da dona Lady Laura trafegou pelos mais variados estilos da MPB. Tudo em detalhes. Por ser terrível, deixou a sua estupidez e cantou a namoradinha de um amigo seu, que virou amada amante. Levou seu cadilac pro mecânico outro dia, mas com um carro todo velho que por lá apareceu andou pela estrada de Santos a 120…150… 200km por hora. E parou na contramão. Cavalgou por toda a noite, proibiu alguém de fumar e avisou Jesus Cristo que ele estava ali. Na fase mais brega cantou as baleias, a Amazônia, as mulheres de 40, as gordinhas, os caminhoneiros… E por fim, afirmou que esse cara era ele.

Mas o rei parece cansado. De saco cheio de ser quem ele é e fazer o que faz, sempre do mesmo jeito e há tanto tempo. Está sem paciência. Exigente, metódico e supersticioso ele sempre foi. Ranzinza também, com aquelas manias de só vestir roupas brancas e azuis ou nunca virar à esquerda nas ruas por onde passa de carro. A aparência dele também não está boa. O cabelo – que agora graças a Deus não tem mais aquela peninha pendurada – parece uma vassoura de piaçava que tratamento nenhum resolve. Outra coisa: as inúmeras harmonizações faciais tiraram-lhe as rugas, mas acabaram por esconder os olhos do rei. E agora, o temperamento: durante os shows, antes mesmo de jogar rosas vermelhas para a plateia, Roberto xinga as fãs na fila do gargarejo quando essas desafinam ou gritam as letras de suas músicas fora do tom. Assumiu definitivamente o seu papel de galã da menopausa. Por óbvio, com 83 anos de idade, não pode mais ter o mesmo pique, empatia e vitalidade que tinha nos tempos da Jovem Guarda. Tem convidado jovens atrizes para cantar com ele no especial da Globo. Nem sempre é feliz nas escolhas. Atriz é atriz, cantora é cantora. As duas coisas, juntas, é talento para poucas. Mas enfim, se chorei ou se sorri, o importante é que o rei segue vivo por aí.

Mas nada é tão ruim que não possa piorar: o contrato dele com a Globo termina em março, portanto, daqui há dois meses. Caso não renove – o que é bem possível em função de estar sendo ‘assediado’ pelo SBT – a Globo já elegeu o seu substituto: Fábio Júnior…

Se está ruim com o rei, pior sem ele…

Daniel Andriotti

Publicado em 17/1/25

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