Naqueles tempos de grandes navegações para espanhóis e portugueses, oito anos depois do italiano Cristóvão Colombo chegar ao continente americano, a serviço da Espanha, treze caravelas, comandadas pelo português Pedro Álvares Cabral, partiram à procura de terras novas. Foi assim que, em 22 de abril de 1500, os europeus aqui chegaram.
Os corajosos desbravadores de mares estranharam nossos nativos, com cabelos lisos escorridos e pele de tom pardo, adeptos da nudez explícita e livres de qualquer pudor. Os primeiros brasileiros de que se tem notícias também assustaram os europeus pelo hábito do banho diário. E eles, acreditando estarem na Índia, chamaram os nativos de “índios”.
Os conquistadores, “se achando os tais”, quiseram escravizar aqueles “índios”, colocar-lhes vestes e catequizá-los. Mas, por serem praticantes da liberdade, seguindo caciques e levando fé em pajés, os nativos se revoltaram, e os europeus desistiram do intento. Em 1943, o então presidente Getúlio Vargas assinou decreto determinando que os brasileiros teriam uma data especial para homenagear os índios: 19 de abril, o que já era fato em outros países.
Lá se vão 525 anos da chegada das treze caravelas portuguesas comandadas por Pedro Álvares Cabral. Já se passaram 82 anos da assinatura do decreto que oficializou 19 de abril como Dia do Índio. E, há quase quatro décadas, entrou em vigor a nova Constituição Federal do Brasil.
Para celebrar tantas datas importantes de mais um abril, incluindo a Inconfidência Mineira, encerrada em 21 de abril de 1792, me inspirei em um costume do Império Romano de grandioso valor para quem exerce o poder em alguma esfera, ótima reflexão sobre limites. Dedicada aos desbravadores de mares, aos povos nativos que não se deixaram escravizar, aos que lutaram contra o exagero de impostos, aos que sofrem com a perda do direito constitucional da liberdade de expressão. É sobre a glória ser passageira.
Na Roma Antiga, uma cerimônia pública homenageava comandantes militares que retornavam vitoriosos das guerras, ou civis que tivessem logrado êxito em tratativas no Exterior. Era chamada de Triunfo Romano.
Para exibir suas conquistas, o general vencedor, no dia escolhido para ser do seu triunfo, recebia coroa de louros e toga pintada, vestes que o identificavam como um ser muito próximo da realeza, beirando a divindade. E percorria as ruas de Roma em carruagem, seguido pelos soldados do seu exército e os inimigos capturados. Estava garantido, então, daquele dia em diante, o direito de ser chamado de “homem de triunfo”, tempos mais tarde conhecido como “triunfador”.
Uma exigência, porém, era feita a cada triunfador, apesar de todas as grandiosas conquistas e do novo status conquistado e exibido aos demais romanos: precisava se comportar com humildade. Afinal, ainda era um mortal, suas conquistas em nome do senado, do povo e dos deuses não mudariam essa condição.
Para que o homem do triunfo “não se achasse demais”, um escravo lhe acompanhava na carruagem, repetindo ao seu ouvido, por diversas vezes: a glória é passageira, a glória é passageira, a glória é passageira, a glória é passageira…
Cristina André
Publicado em 18/4/25