Verão dando ares da sua graça, promete praias com o Sol batendo nos ombros, iluminando a vida. Distribuindo calor, como fazia antes, quer esquecer a pandemia que nos manteve em distância regulamentar, uns dos outros, durante tanto tempo. Quem sabe, preparando-nos para o definitivo retorno, anunciando vésperas felizes do reencontro com a própria natureza humana.
Casacos de mudança para andares mais altos do guarda-roupas, cachecóis e luvas a caminho das gavetas que permanecerão fechadas nos próximos meses; botas e pantufas marchando juntas, feito pelotão cívico, para o andar térreo dos guardados, camuflados, longe das vistas.
É dever da leveza ocupar espaços maiores, precisaremos de bermudas e regatas em posições estratégicas; havaianas, tênis e minúsculas meias bem à mão, nos locais de fácil acesso. Eis que as caminhadas e os passeios de bicicleta, as corridas e os exercícios funcionais já estão posicionados, a largada não espera.
Lá vamos nós, de volta às academias para os cuidados que o corpo exige. Pelo caminho que me leva aos exercícios físicos, alegra meu coração de professora ver alguns estudantes nas ruas, retornando às escolas, suas academias do intelecto.
Aos meus alunos, quando me questionavam da utilidade prática de se aprender conteúdos matemáticos abstratos, eu costumava dizer que é preciso saber o que existe de conhecimento científico no mundo, entender um pouco sobre o trabalho dos satélites artificiais, o funcionamento de celulares e computadores, as navegações e as viagens aéreas, as tomografias e a música. Porque, mesmo integrados ao nosso dia a dia, é impossível enxergar “a olho nu” o que faz tudo isso funcionar.
Concluía, então, com uma metáfora bem simples, que os fazia rir um pouco e seguirem nas importantes tarefas estudantis. Explicava que as pessoas buscam academias para musculação e exercícios diversos para o corpo com o objetivo de melhorar seu rendimento físico. Pois as aulas de Matemática fazem esse trabalho em relação ao cérebro, são como academias para os neurônios.
Dividida entre questões concretamente postas em nosso cotidiano e abstrações sem aplicação momentânea, que no futuro poderão ser úteis a diversas outras áreas, assim a velha e boa Matemática segue com sua tarefa de exercitar cérebros. Deixá-los em boa forma para facilitar todo tipo de aprendizado.
O Verão dá ares da sua graça, distribuindo calor ao mundo, como fazia antes. Quem sabe, preparando o definitivo retorno, anunciando vésperas felizes do reencontro com a nossa própria natureza. E lá vamos nós, de volta às academias para os cuidados que o corpo exige.
Pelo caminho, quando vejo estudantes retornando às escolas, a emoção me invade, sorrio de felicidade. E lembro dos meus alunos, na resposta que sempre lhes dava quando me perguntavam a razão para estudarem certos conteúdos matemáticos abstratos: “Essas aulas são as academias dos neurônios”.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 26/11/21.