David Coimbra

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Em 27 de maio de 2022, o jornalista David Coimbra encerrou esta sua jornada terrena. E fico surpreso como este luto me atingiu. Como se diz, a morte é nossa única certeza. No entanto, quando acontece com alguém com que construímos algum significado, nos impacta mais. Talvez minha admiração e conexão venha por sua habilidade em escrever suas colunas com maestria, em fazer rir e/ou chorar, em pegar dois ou mais temas aparentemente impossíveis de conciliar e amarrar em metáforas ricas e geradoras de insights.

As constantes aventuras dos seus amigos de adolescência no bairro do IAPI, parceiros de futebol em Porto Alegre, as conversas profundas com seu avô sapateiro, os carinhos da sua madrinha… E aos poucos fui me dando conta que parte desta admiração vem também da entrega de seus sentimentos mais profundos, e muitos eu não necessariamente concordava, mas a coragem dele de os expressar sim.

Lembrei do criador de uma escola terapêutica chamada Análise Transacional, Eric Berne. Ensinava que a intimidade é a forma mais humanamente gratificante de valorizar o tempo. O cruzar a barreira do banal, do formal, do medo. A intimidade supõe risco. Supõe ser julgado… E, também ser apreciado, gerar novas sínteses de entendimento. O David nos fazia íntimos da sua vida, das suas ideias. Neste dia 27, a programação da Rádio Gaúcha, do Grupo RBS, onde David trabalhava havia décadas, foi toda dedicada ao seu legado.

Anos atrás li uma frase que me chocou, e depois me fez despertar para sua profundidade: O câncer é uma doença generosa. Fazia 10 anos que David Coimbra tinha descoberto e iniciado seu duelo com a doença. E com que intensidade, como este ímpeto acabava estimulando seus leitores para viver com mais alegria e atenção. Viver o hoje, o agora. Considero isto a generosidade desta doença. A oportunidade para não ter mais tempo para a banalidade. A chance de ousar mais, se expor mais.  O quanto seu filho Bernardo, agora com 13 anos, pode receber, nestes últimos 10 anos, de conscientização do valor de cada dia a mais, com um pai muito mais presente na sua vida.

E nós que ficamos, que tal aprendermos com a finitude e transbordarmos mais vida, mais alegria, mais conexão com os outros, mais intimidade, mais amizade?

Minha gratidão a este jornalista que me ajudou, por seus textos e reflexões, a expressar nas minhas relações, um maior Sim à Vida, uma valorização de cada dia a mais. Abençoado seja. Abençoados sejamos todos para este despertar. Felicidade!

Joaquim Mello

joaquim.mello@terra.com.br

Publicado em 17/6/22

Comentários 3

  1. Henrique Ventura Olmos says:

    Um texto compatível com a grandeza do referenciado autor, homem do nosso tempo, homem intemporal!

  2. Regina Peres says:

    Essa delicada e afetuosa homenagem é reconhecimento e celebração, da vida que foi e que permanece impressa na experiência dos leitores. Recebendo o desafio como mestre, podemos viver a única vida que temos: agora. Parabéns pelo texto!

  3. Beatriz Maia says:

    Não sabia da passagem do Coimbra. Bela homenagem Joaquim, me fez querer saber mais da obra dele. Grata.

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