As forças da natureza mostraram o seu poder agressivo numa rápida e incômoda visita à Guaíba no final da tarde da última segunda-feira. De forma mais intensa nos bairros Ipê, Cohab e Santa Rita, esses dois últimos, não por acaso, onde se concentra a maior população da cidade.
Os tornados por aqui são algo bem mais frequentes do que se imagina, principalmente nos três estados do sul. E isso se torna mais assustador porque o Brasil é o segundo país do mundo em número de ocorrências dessa natureza, perdendo apenas para os Estados Unidos. Recordo de algo semelhante com o que aconteceu na última segunda-feira em Guaíba, no final da distante década de 70, mais especificamente em novembro de 78, na Vila Iolanda. Uma época em que não se sabia quase nada sobre ciclones ou furacões. Lembro que havia um supermercado na rua Adão Foques que não ficou sequer um pedaço de parede de pé. Além de relatos sobre fogões, geladeiras e máquinas de lavar roupas voando sobre as casas…
A mãe-natureza não está em fúria. Mas de fato, anda demonstrando algum mau humor com relação ao Brasil. E ela sabe que somos, sim, muito vulneráveis às suas ações. O mundo todo é. Mas parece que os tupiniquins terceiro-mundistas sofrem mais. Os norte-americanos, por exemplo, que estão à nossa frente nesse “ranking”, é um povo bem mais rico que o nosso, mais organizado que o nosso, menos corrupto que o nosso. A extrema mudança climática dos últimos meses em diferentes regiões do país expõe a fragilidade humana do Brasil ao limite. E não sou daqueles que costuma creditar a intervenção do homem e sua inteligência estúpida como a principal causadora de todo e qualquer fenômeno quando o meio ambiente resolve nos ‘cobrar alguma conta’ de forma trágica. Estiagem no sul, com perdas na agricultura, na pecuária, nos incêndios florestais. Inundações e mortes no nordeste e no centro-oeste. Elevação no nível do mar, verões mais quentes e invernos mais frios, impactos na fauna, na flora… e na saúde pública.
A verdade é que manifestações meteorológicas costumam levar tudo pela frente: paisagens, moradias, sonhos e vidas. E certamente nunca estaremos preparados para viver momentos – literalmente – dessa natureza.
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E o mundo voltou a “positivar”. E agora, de uma maneira assustadoramente mais veloz. Com menos mortes e menos internações graves, é verdade, por conta da grande maioria da população vacinada. Fico preocupado quando converso com dois grupos de pessoas: aqueles que defendem o direito de não se vacinar; e as que contraem o vírus, sem maiores sintomas ou sequelas, mas esbravejam contra a vacina. “Fiz as três doses e peguei essa praga..”. Se ela não tivesse sido vacinada, é muito provável que não estivesse por aqui ainda, quanto mais dizendo coisas absurdas desse tipo. É preciso sempre ter muito claro que a vacina não impede o contágio. O que impede o contágio é o distanciamento, a máscara, a higienização das mãos. A vacina ameniza o efeito e o impacto do vírus no organismo.
O primeiro grupo me assusta um pouco mais: todos nós, enquanto inseridos numa democracia, temos todo o direito de fazer o que bem entendemos com o nosso corpo, com o nosso organismo, com a nossa vida. Desde que estejamos dispostos a assumir todos os riscos, as consequências e as responsabilidades com todas aquelas pessoas com quem temos proximidade física. Depois, chorar sobre o leite derramado, definitivamente, não resolve. É tarde.
Daniel Andriotti
Publicado em 21/1/22