Em política, confiança é uma mercadoria mais valiosa do que o próprio voto. Para quem não lembra, em 94, antes do lançamento do Plano Real, o presidente Itamar Franco apresentou uma nova moeda, que não era propriamente uma moeda. Algo incompreensível para a população até mesmo pelo nome – Unidade Real de Valor, a URV: uma tabela complexa, cheia de números depois da vírgula e que tinha paridade com o dólar, sendo atualizada diariamente. Em pouco tempo a sigla se tornou popular – num período sem rede social e que a Rede Globo ainda nem era uma emissora estatal. Mas a verdade é que a URV assegurou uma suave transição para a moeda que está aí até hoje, o Real.
Lula, na época, era o líder de uma oposição ferrenha e extremamente crítica ao Plano Real. E se tem uma coisa que a esquerda e o PT e são imbatíveis é na arte de serem barulhentos enquanto oposição. E Lula acabou perdendo aquela eleição para o então ministro da Fazenda do Itamar, chamado Fernando Henrique Cardoso. FHC ganhou porque o eleitorado entendeu, acreditou e aceitou a mensagem econômica sobre o futuro proposto pelo governo.
Na crise do Pix, deflagrada na semana passada, aconteceu exatamente o contrário. Lula, agora do outro lado do balcão, ficou transtornado com um vídeo postado por um deputado federal mineiro – e obviamente oposicionista – que viralizou na internet com mais de 300 milhões de visualizações. Resultado: Lula revogou aquilo que havia decidido momentos antes, numa explícita demonstração de que ele e seus ministros estão – não só desorientados – mas também muito mais preocupados com índices de popularidade nas redes sociais do que com aquilo que realmente importa. O presidente critica sua equipe de comunicação – tanto que chegou a demitir o ministro-chefe da pasta – quando o problema é outro, chamado credibilidade.
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Durante a semana mais um policial foi morto por um bandido menor de idade em Butiá, que atirou para defender sua companheira-traficante de 26 anos. O policial – um pai de família que trabalhou em Tapes e Guaíba – foi a segunda vítima fatal desse jovem excluído da sociedade pelo sistema capitalista e opressor na sua curta trajetória criminosa de 17 anos de idade. A primeira foi uma adolescente, também em Butiá. Vale lembrar que, pelo Código Penal Brasileiro, quando um indivíduo menor de idade comete algum ato descrito como um crime – incluindo matar alguém – ele não é processado ou punido pela Justiça Penal. Afinal, ele é uma criança inocente, certo? Detido em flagrante, é encaminhado à autoridade policial competente para… uma medida socioeducativa.
Esse jovem incompreendido pela sociedade e que matou o policial na terça-feira, pela gravidade do fato, deverá levar um ‘puxão de orelhas’ verbal de algum juiz da infância e da juventude, com reprimendas do tipo “isso não se faz, menino malvado!!! É muito feio…”. Em seguida vai para a Fase, comer, beber, assistir TV, navegar no seu celular, jogar futebol – e quem sabe até fumar um baseado diariamente, produto ao qual ele tem fácil acesso – junto aos seus amigos de delinquência até completar 18 anos. Depois estará livre, leve e solto, com a ficha limpa para matar quantos mais ele entender que pode e deve.
Daniel Andriotti
Publicado em 24/1/25