Você já deve ter ouvido falar nos ‘motoristas de finais de semana’ ou também nos ‘motoristas de domingo’. Eu explico: há pessoas que durante a semana deixam seus carros na garagem e vão para o trabalho a pé, de bicicleta – que agora é ‘hipocritamente’ correto para a desaceleração do buraco na camada de ozônio (?!?!?!) – ou vão de ônibus, de van, de carros de aplicativos, de carona com colegas e amigos. Até aí não tem nada de errado nisso. No entanto, essas pessoas que não dirigem de segunda a sexta, resolvem passear tranquila e distraidamente com a família nos seus próprios automóveis aos sábados e domingos. E então, começa um festival de riscos que inclui imprudência e imperícia – também conhecidas por ‘barbeiragem’ – mas que até prova em contrário, ainda estão dentro da lei. Só que, aos finais de semana, eles trafegam lado a lado com os que bebem e dirigem; além dos que bebem, dirigem e utilizam medicações ou energéticos porque dormem pouco para aproveitarem melhor os dias de folga. Está formado o coquetel do desastre.
Vamos pegar uma rodovia como exemplo: eu utilizo a BR-290 quase todos os dias. De segunda a sexta-feira, por motivos profissionais. E aos sábados e domingos para cumprir compromissos pessoais e familiares. Por isso, fiz um levantamento não-científico, mas de alto teor de percepção. Posso garantir que nos dias úteis o tráfego é mais intenso, mais pesado (em todos os sentidos), mais rápido e os motoristas, digamos assim, de comportamentos mais ‘agressivos’, porém mais qualificado e não necessariamente menos imprudente. Nos finais de semana, essa mesma estrada reúne um grupo oposto. É o motorista que dirige pouco e por isso tem reflexos mais lentos. Com isso lhes falta alguma prática para execução de determinadas tarefas onde todos as reações precisam ser mais rápidas. Assim, não raras as vezes realiza manobras sem os devidos cuidados, expondo outros motoristas, passageiros e pedestres a riscos desnecessários. Esse padrão de condutor pode também não avaliar a consequência de ficar contemplando a paisagem a uma velocidade muito baixa, nem sempre indicada para determinados trechos da rodovia. E não estamos nem falando das condições precárias dessa estrada, esburacada, mal sinalizada e de pista simples, onde a iminência de uma colisão frontal – a que mais mata em acidentes de trânsito no Brasil – é gigantesca. Agora imagine trafegar por ela, a qualquer dia da semana, à noite, com chuva ou com neblina…
Nos finais de semana também é mais comum encontrarmos ‘aquele’ veículo em situação precária, principalmente com pneus e peças desgastadas que já deveriam ter sido substituídas há muito tempo. Isso porque há uma ‘ilusão’ de que a Polícia Rodoviária seja menos ‘exigente’ aos sábados e domingos. Ledo engano. Por fim, já que estamos falando (mal) da BR-290, de Eldorado do Sul a Uruguaiana são cerca de 600 quilômetros ou 7h30min de viagem. Em raros pontos dessa estrada há sinal de telefonia celular. Em casos de pane ou de acidentes, só a boa vontade e a solidariedade de outros motoristas. Barbeiros ou não. Rápidos ou lentos. Ágeis ou distraídos…
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Em algum momento da vida todos nós fazemos parte de alguma situação que muda o mundo. Na manhã do último domingo, eu e minha filha fizemos parte das 36.330 pessoas que garantiram lugar no maior público que um jogo de futebol feminino reuniu num estádio brasileiro. Talvez esse recorde seja quebrado na tarde do próximo sábado, jogo de volta, em São Paulo, entre as meninas do Inter e do Corinthians pela final do Campeonato Brasileiro da categoria. Mas pelo menos por uma semana, nós ajudamos a escrever uma parte da história…
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No momento em que você, caro leitor, acompanha essas mal traçadas linhas, terminou a Semana Farroupilha e começou a primavera. Finalmente parece que deixamos para trás um inverno interminavelmente rigoroso. Agora a pauta outra: eleições. Depois vem a Copa do Mundo.
Emoções não nos faltarão…
Daniel Andriotti
Publicado em 23/9/22