A 26ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)/COP26, em Glasgow, Escócia, foi um marco importante nas negociações internacionais sobre o tema. Certamente, muitos discordam dessa opinião. Sim!… Há controvérsias! São muitas as opiniões que a consideram decepcionante e um grande fracasso. Discordo!
Na minha leitura, o encontro de Glasgow protagonizou um momento histórico, pois pela primeira vez o plenário de uma convenção da ONU confirmou que o aquecimento global e as mudanças climáticas são reais e preocupantes.
Apreciando um café com amigos, numa tarde ventosa, na feira do livro, discutindo o relatório da conferência, sentenciei: A COP 26 foi um divisor de águas! Fiquei surpreso com o silêncio que reinou, por alguns segundos, na “mesa de debates”. Tive a sensação de que até as flores dos jacarandás que caíam com o vento, pararam no tempo! Passada a surpresa, os parceiros de mesa, recuperados, questionaram quais eram “as evidências” que me levavam a afirmar isso. Até citaram a Greta Thunberg – a Pirralha. – “É só mais blá-blá-blá!”
Vamos lá!… Quais os sinais que me levaram a classificar essa convenção da ONU como divisor de águas? O fator primordial foi – como já citei – ter sido acordado entre as partes e registrado no relatório final, que o planeta vive um momento de emergência ambiental decorrente do aquecimento global e das mudanças climáticas. Isso é uma quebra de paradigma. Infelizmente, os americanos, chineses e indianos melaram a redução imediata do uso do carvão. Ficou o compromisso de substituírem o uso “o mais rapidamente que puderem”. Comemoro os significativos avanços na direção de selar o destino do carvão, sinalizando um futuro movido à energia limpa. Um dia chegaremos lá!
Destaco outros sinais significativos que chamaram minha atenção, como por exemplo, a disposição do “grande capital” em encerrar o financiamento de projetos de carvão e uso de combustíveis fósseis, assim como a sinalização de “barreiras” aos produtos produzidos em áreas de desmatamento. É importante salientar que a proteção às florestas foi definida como alta prioridade.
Sempre foi difícil debater o repensar do modelo de desenvolvimento. Os negacionistas usam teses de que o aquecimento global é um evento cíclico. A oficialização, no documento produzido na COP26, consolida a tese de que o aquecimento global e as mudanças climáticas são fatos reais, desmantelando a anacrônica falácia desenvolvimentista. O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, foi ao encontro dessa premissa e do atual paradigma, dizendo: “A luta contra as mudanças climáticas é um novo interesse de segurança nacional.”
Nessa conjuntura, fica difícil entender a motivação do governo brasileiro em apostar numa obsoleta política ambiental que só prejudica a economia e a sustentabilidade social. A visão equivocada de crescimento às custas da degradação dos recursos naturais é suicida. No cenário atual é estúpida!
“Quando se toma a resolução de tapar os ouvidos mesmo aos mais válidos argumentos contrários, dá-se indícios de caráter forte. Embora isso também signifique eventualmente a vontade levada até a estupidez.” (Friedrich Nietzsche)
Túlio Carvalho
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Publicado em 3/12/21.