Nem mesmo o mais fanático militante da esquerda latino-americana duvida que Lula ‘matou’ quase todas as aulas de história nos poucos anos em que frequentou os bancos escolares. Há quem diga que faltou também às de português (essa é certa!!!), matemática, geografia, física, química e biologia. A verdade é que essa semana ele escancarou a sua ausência nas aulas de história demonstrando seu total desconhecimento do que foi o holocausto, quando comparou o maior extermínio da humanidade – praticado por nazistas contra judeus – com os ataques de Israel à Faixa de Gaza, no Oriente Médio. Tomara que realmente tenha sido desconhecimento; porque se ele sabia e mesmo assim usou a metáfora, a intenção da declaração é ainda mais cruel e tendenciosa.
Do outro lado da polarização tóxica da política brasileira, Bolsonaro convoca o coletivo antipetista para ir às ruas no próximo dia 25 numa tentativa de sensibilizar o STF, com o objetivo de ‘aliviar’ a pressão das investigações que mostram a sua participação numa tentativa de golpe de Estado e que o colocam, inclusive, em ameaça de prisão. Aproveita a situação para ‘acenar’ aos aliados que ele segue sendo o ‘único’ líder de oposição capaz de levar multidões às ruas. Se esses dois é o que temos de melhor para governar o nosso país, estamos bem arranjados…
Níveis extremos de forças políticas opostas têm efeitos diretos e prejudiciais sobre os fundamentos democráticos de uma sociedade. Quando isso acontece, esses diferentes grupos, normalmente, começam a questionar a legitimidade moral de ambos os lados o que convenhamos, não tem absolutamente nada de positivo. É exatamente isso que acontece no Brasil nesse momento. E no meio dessa disputa existe… o povo. Uma mera – e até que se prove o contrário para a politicalha brasileira – inexpressiva peça do tabuleiro deste jogo de xadrez. Jogo sujo, no caso.
Correndo por fora tem um outro ingrediente: a massa de manobra. Fanáticos representantes populares de lado a lado cuja atribuição é propagar a guerra cultural e de narrativas sem precedentes. Incluindo as famigeradas fake news. São aqueles – eleitos ou não pelo voto popular – que com sua verborragia populista se retroalimentam por meio de likes clicados por seus seguidores, que nem sempre são humanos; os robôs virtuais estão aí para iludir e até ‘convencer’ os mais ingênuos. Especialistas em ciências políticas – que não é o meu caso – dizem que embora o preço seja bem alto, a polarização pode funcionar como uma ferramenta estratégica que permita reformas institucionais. O lado bom disso é que poderemos ter, num curto prazo de tempo, uma depuração nas lideranças dos nossos quadros políticos. Mas a contrapartida nefasta é que assim ficaremos cada vez mais partidarizados e menos politizados.
Essa divisão conhecida como ‘nós contra eles’, via de regra termina em discursos de ódio e de violência. E isso não é de hoje. A polarização no Brasil engatinhava desde o final da ditadura, mas ganhou corpo mesmo a partir de 2013; decolou com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 e atingiu seu ápice com a eleição de Lula nas eleições de 2022. De lá para cá, o Brasil testemunhou ataques perpetrados à democracia e às instituições, cujo resultado de maior aberração – pelo menos até agora – culminou com a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do STF em 8 de janeiro do ano passado, com depredação do patrimônio público e a busca do rompimento do Estado Democrático de Direito. Com a consequente ‘caças às bruxas’, Bolsonaristas afirmam que ‘isso é coisa da esquerda, disfarçada…’, que invadiu e depredou os prédios públicos para culpar a direita. Petistas, amparados por boa parte da mídia, garantem que ‘isso é coisa de reacionários, racistas, homofóbicos e fascistas’. Independentemente de quem tem razão na questão dos palácios, um rei está morto e o outro está posto. E a única certeza: a conta chega sempre para os mesmos bobos da corte.
Daniel Andriotti
Publicado em 23/2/24