Em janeiro, a Lúcia e eu fomos passear, em São Paulo, com a Roberta e os netos. Já tinha um tempo que não curtíamos uma aventura eletrizante com os medonhos. Vivemos dias de zoeira, alegria e muito amor. Foi maravilhoso!
Sempre que chego a São Paulo, ao pousar, fico hipnotizado pelo que a especulação fundiária fez. Durante os deslocamentos para os parques, conversei com os motoristas, para saber mais sobre o caos dos alagamentos. Impressionei-me com o que ouvi e vi! As principais vias da metrópole ficam intransitáveis. Quando chove forte e, se for muita água, como tem acontecido, a calamidade impera na cidade. Aliás, os meses iniciais de 2020 foram terríveis para alguns estados. São as catástrofes anunciadas que alguns negam.
As inundações são temas recorrentes. É uma história que parece não ter fim! A causa principal dessas tragédias é a ocupação desordenada e indevida do solo. A água, que deveria infiltrar onde chove, escorre pelas encostas e superfícies “impermeabilizadas”, provocando enxurradas devastadoras. Decorre, daí, o aumento da velocidade de escoamento, erosões, destruições generalizadas, com elevadas perdas humanas, materiais e financeiras.
Importante, nesse irracional processo de apropriação territorial, é aprendermos com os erros e planejar a ocupação dos espaços ainda não assolados pela ganância especulativa. Existe a máxima de que “precisamos desenvolver a economia para então nos preocuparmos com as demandas sociais e ambientais.” Essa é famosa tese de que primeiro o bolo tem que crescer para depois desfrutarmos. Ela faliu. Não há dúvida de que, cada vez mais, menos pessoas têm acesso ao bolo! Está claro que as questões sociais e ambientais são fundamentais para um desenvolvimento sustentável e justo.
Para reverter esse quadro são necessárias intervenções estruturais e mitigadoras, de médio e longo prazo. Destaco a desocupação de áreas de risco, a recuperação da vegetação nas encostas e margens dos rios, a construção de redes eficientes de drenagem, preservando o sistema natural que sobrou, além de um programa de educação socioambiental, visando o manejo e destinação correto dos resíduos sólidos. Isso é planejamento e gestão urbana. Pergunto: Guaíba planeja seu desenvolvimento territorial?
O Global Risks Report de 2020 destacou que os desastres naturais, em 2018, causaram prejuízos de US$165 bilhões. Trago de volta a afirmação dos ganhadores do prêmio Nobel em economia, William Nordhaus e Paul Romer, “A poluição se tornou problema e coloca em risco o próprio capitalismo”.
“A história da humanidade torna-se cada vez mais uma corrida entre a educação e a catástrofe.” (Henry Wells)
* Coluna publicada em março de 2020. Esta é uma homenagem póstuma da Gazeta Centro-Sul ao nosso colaborador Túlio Carvalho que partiu no dia 18 de agosto deste ano. Sua Coluna – Perspectiva – era publicada na primeira sexta-feira do mês.