Estávamos em uma daquelas festas adoráveis, mesa compartilhada com casais de amigos e familiares, bom jantar seguido de danças com música ao vivo. Vaivém na pista, todo mundo em alto astral. Anos atrás, era assim.
Lá pelas tantas, deixamos as danças e seguimos na direção do espaço reservado ao cafezinho providencial, passado na hora, lascas de chocolate acompanhando. Para o merecido descanso, algumas conversas amenas, e o retorno para a festa.
Eis que, antes mesmo que terminássemos aquele recreio de adultos, começaram a tocar uma melodia bem conhecida, de autoria do U2, uma banda de rock irlandesa, e muita gente retornou para a pista de danças na maior animação. Teve até “trenzinho” quando os músicos da festa deram ritmo de samba ao primeiro grande sucesso do famoso grupo comandado por Bono Vox.
Sem percebermos, dançávamos e cantávamos, todos na maior animação, “Sunday Bloody Sunday”, cuja tradução, acredite quem quiser, é “Domingo Sangrento Domingo”. Uma canção de protesto e pesar pela morte de catorze irlandeses que participavam de manifestação pela independência da Irlanda do Norte e foram reprimidos com violência por soldados britânicos.
Nos anos setenta, muita gente era presa por terrorismo, sob suspeita de integrarem o IRA – grupo revolucionário que se autodenominava Exército Republicano Irlandês. E foram tantas as prisões também de inocentes, sem direito de defesa, que no domingo, 30 de janeiro de 1972, na cidade de Derry, cerca dez mil manifestantes tomaram as ruas, mesmo com a proibição daquele tipo de evento que vigia no país até o final do ano. Na tentativa de detê-los, o confronto aconteceu, e o dia entrou para a História como “Domingo Sangrento”, que o grupo irlandês U2 transformou em música, cujo ritmo dançante engana quem não presta atenção ou não entende a letra.
Aconteceu quando estávamos em uma festa, bom jantar seguido de danças com música ao vivo, vaivém na pista de danças, todo mundo em alto astral. Depois do cafezinho providencial, já era madrugada, começaram a tocar e cantar sucessos do U2 e muita gente retomou a versão “pé-de-valsa”.
Sem percebermos, dançamos e cantamos, todos na maior animação, ao som de “Sunday Bloody Sunday”, cuja tradução, acredite quem quiser, é “Domingo Sangrento Domingo”.
Por sorte, não havia celulares filmando tudo como agora, o que limitou o vexame da falta de atenção, impedindo que atravessasse fronteiras.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 1/9/23