Mundo em constante transformação, tecnologia avançando a passos largos, máquinas tomando o lugar que era de gente. Na contramão desse alucinado desenvolvimento, tempos de pandemia e distanciamento pessoal, de máscaras e álcool em gel, de vacinas emergenciais. Quietude e medo de contaminação.
Eis que chega mais um verão, com seus dias de sol intenso e o tradicional feriadão de Natal e Ano-novo. De repente, o que não se fazia há dois anos, para evitar a contaminação, voltou com força total, com aquela energia própria de tudo que está enraizado em nós. Estradas supermovimentadas, praias lotadas, festas, e a tão esperada volta do normal, o retorno daquele mundo de antes.
Mas, como escreveu Khalil Gibran (1883-1931), filósofo e escritor libanês, a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. Cada estação, pois, é nova, diferente de todas as outras.
Anos atrás, verão significava o anúncio das grandes férias escolares, do esperado veraneio. De organizar roupas, arrumar malas, escolher livros para levar na bagagem. Baralho de cartas, revistas, alguns discos – os melhores. Especialmente para os dias de chuva que sempre aconteciam e, acredite quem quiser, também eram benvindos naqueles tempos de calmaria e pouca ansiedade.
Na simplicidade das pequenas localidades praianas, a gente descansava e se divertia ouvindo música, lendo romances, escrevendo poesia, fazendo refeições fora de hora, conversando durante longos períodos, contando e ouvindo boas histórias.
Também era naqueles verões que as tias, donas de casas na praia, enfrentavam o mesmo divertido problema: onde colocar tanta gente para dormir. Sobrinhos, amigos, filhas de amigos, namorados das filhas, namoradas dos sobrinhos, amigas das namoradas dos filhos, e por aí afora. Todo mundo recebia dezenas de visitas inesperadas durante a temporada em frente ao mar. As casas estavam sempre abertas, como se já esperassem por toda aquela gente que chegaria, alternadamente, até o final do verão.
Andava-se pelas ruas sem medo, a qualquer hora do dia e da noite. Nas varandas, famílias se reuniam para receber amigos, crianças brincavam e corriam dos enormes sapos, adultos jogavam baralho, jovens filosofavam até a madrugada. Sem máscaras, sem medos, sem pressa, sem celulares.
Mundo em constante transformação, tecnologia avançando a passos largos, máquinas tomando o lugar que era de gente. Eis que chega mais um verão, com seus dias de sol intenso e o tradicional feriadão de Natal e Ano-novo. Estradas supermovimentadas, praias lotadas, festas, e a tão esperada volta do normal, enfim o retorno daquele mundo de antes.
Mas, como escreveu Khalil Gibran, a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. Cada verão, pois, é novo, diferente de todos os outros.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 7/1/22.