Caça e Caçador

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Está aberta a temporada de caça. Primeiramente, ao voto. Nesse caso, alguns caçadores são cruéis. Outros, apenas tóxicos. Esse é o período no qual partidos e candidatos farão de tudo e mais um pouco para convencer a presa a digitar o seu número antes da tecla “confirma” diante da urna. Como fazer é o grande desafio aos postulantes. Tudo muda o tempo todo no mundo. As campanhas, no entanto, não estão mais fáceis nem mais difíceis: estão apenas diferentes. Isso porque a disputa é grande. Segundo o TSE, no país são mais de 28 mil candidatos no páreo desse ano. Isso significa que olhos e ouvidos bem abertos não bastam, porque a tentativa de jogo sujo é presença certa em todos os lados, todos os partidos, todas as ideologias. Haja filtro.

O ‘santinho’, o tapinha nas costas durante o cafezinho com pastel no boteco, o aperto de mão na calçada, a camiseta, o carro de som, entre outras tantas formas de chamar a atenção vão, aos poucos, perdendo espaço. Agora, a ferramenta obrigatória para sensibilizar o surrado, desgastado, humilhado e ferido coração do eleitor é a rede social. Contribui também para esse tipo de marketing digital a infinidade de plataformas à disposição dos candidatos — na eleição de 2018, apenas o Facebook e o WhatsApp tinham relevância eleitoral.

Um grande mito sobre redes sociais é que lá tudo é de graça. Pode até ser para a presença individual ou para a brincadeira com amigos e familiares. Mas quando vira profissional, a coisa custa caro. Mas isso não é problema para os nossos candidatos. Há um componente diferenciado nas eleições desse ano: o Congresso Nacional decidiu injetar o maior volume de dinheiro público de toda a história política brasileira no financiamento das campanhas. Com isso, ‘chove na horta’ de gente capacitada e com bons e sólidos conhecimentos do fabuloso mundo digital. Equipes muito bem estruturadas e tecnicamente capacitadas que, além de empregarem técnicas avançadas de comunicação – não somente nas redes sociais como em tantas outras plataformas – também são capazes de identificar as candidaturas fracas dos adversários. E aí… é um verdadeiro massacre. Trata-se daquela situação onde se aplica a regra: “Se não sabe brincar, não desce para o playground”. Num marketing político digital sério e profissional, os candidatos têm a interação com o eleitor como objetivo principal de campanha. E aí, a vitória nas urnas será uma consequência lógica do sucesso dessa tarefa.

 

* * *

A outra caçada é bem mais light: trata-se da busca por uma pilcha para participar dos festejos em comemoração à Semana Farroupilha. Aliás, Semana Farroupilha é coisa do passado. Agora é praticamente Mês Farroupilha em todas as querências, empreitada que cada vez mais enche de orgulho a gauchada da Província de São Pedro. Não é para menos: trata-se da mais longa revolução do Brasil, de caráter republicano contra o império e que teve início em 20 de setembro de 1835 e durou quase dez anos. Seus ideais: liberdade, igualdade e humanidade. Cem anos antes da nossa revolução, a França já havia copiado o nosso slogan substituindo ‘humanidade’ por ‘fraternidade’. Até aí tudo certo. Guerra se ganha ou se perde, muito mais pelas ideias do que pelas armas. O que realmente importa é que a Epopeia Farroupilha se constituiu num marco fundamental da nossa história.

Há quem diga que gaúcho é um ser tão ‘fora da curva’ que todo ano comemora uma revolução que perdeu. Há controvérsias. Perdemos a guerra mas ganhamos outras tantas coisas decorrentes das inúmeras batalhas que até hoje o mundo nos respeita por isso.

O resto é filosofia de boteco.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 02/9/22

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