Águas invadiram esse maio, mês das mães e da padroeira
Guaíba, grandioso e tranquilo, com tantos rios se achegando,
Uma certa noite, assim, de repente, virou lago sem fronteira
Algumas pessoas, incrédulas, que decidiram ficar esperando
Sentiram-se, então, alcançadas pelas águas inquietas da Beira
De repente, dando-se conta da velocidade do que acontecia,
Em botes salva-vidas, jet skis e canoas, deixaram seus lares
Momentos tristes, somente quem viveu sabe daquela agonia
Ao sentirem-se traídos pelo próprio destino, buscando a razão
Insuficientes são os consolos, sofrem a dor desse estranho dia
Observam as águas do seu encanto, esperando por explicação
De onde veio todo aguaceiro, que no Lago Guaíba nem cabia
Eis que o tempo passando, trouxe à tona empatia e comoção
Despertando-nos de sono perturbador, hora de compartilhar
Ouvir as histórias parceiras, trocar ideias sobre acolhimentos
Indo e vindo de abrigos, escutando e repetindo, tudo vai passar
Saudade do aconchego caseiro, conforto de fotos e documentos
Memórias guardadas em armários, livros, em luzes de Natal
Iluminando a vida, grandioso presente para os outros meses,
Lá se vão, pelo curso revolto das águas, o planejado e o casual
Enquanto tanta gente sofre por suas perdas, aqui estamos nós
Vendo o que pode ser feito, o que permitem nossos limites
Indo nos locais de acolhimento, mostrando que não estão sós
Nas conversas e nos abraços, oferecendo atenção e alimento
Tudo que pudermos fazer de útil a cada um será por todos nós
E o que for de coração trará felicidade nesse difícil momento
Eu reflito sobre as águas que brotam sementes e lavam almas
Quero aceitar que sejam as mesmas, redimidas dos seus erros
Uma bênção que teve o curso desviado, talvez equívoco nosso
Ainda sem a devida compreensão da obra divina, da Natureza
Tratando melhor finanças do que as águas, nosso maior bem
Rios de lágrimas levando tudo adiante, demonstrando destreza
Ouro líquido da vida, perdoe-nos pelos maus-
tratos, amém!
Cristina André
Publicado em 24/5/24