A vida não é justa

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Já vai longe o tempo que a honestidade deixou de ser uma condição essencial para o tratamento da coisa pública no Brasil. Trata-se de uma disfunção que leva à falência múltipla de outros valores. Várias gerações cresceram ouvindo a máxima de que “no Brasil, só pobres e pretos vão presos”, ou “no Brasil, a única coisa que dá cadeia é deixar de pagar pensão alimentícia”.

Há poucos anos chegamos a ter a nítida impressão que estávamos tendo o privilégio de ver isso mudar: cidadãos poderosos, ricos e influentes foram encarcerados, verdadeiras fortunas desviadas dos cofres públicos foram devolvidas. O país, finalmente, estava se tornando um império da lei.

Só que não. Conseguimos a infeliz proeza de não só soltar os corruptos presos, como a de elegermos alguns deles, condenados por duas dezenas de juízes. Ainda há a presunção da inocência no Brasil? A moral da sociedade brasileira parou de funcionar porque as pessoas passaram a acreditar que, sim, aqui o crime compensa?

Lula, por exemplo, elegeu-se aliando-se a pessoas que ele odeia, a começar pelo vice Geraldo Alckmin, eterno antagonista ao PT. Não contente, aliou-se a Simone Tebet, uma oportunista descarada e cuja companheira de chapa o acusou de mandante de assassinato. Vejam que vale qualquer associação pelo poder. Lula elegeu-se pela sua ‘persona’. E, historicamente, culto à personalidade termina em fracasso. Bolsonaro, inclusive é o melhor exemplo disso: perdeu a eleição devido à sua persona. A política brasileira se resume a isso: “gosto” ou “não gosto” deste ou daquele candidato. Pouco importa o que ele pretende fazer pelo país e o que deixará de positivo ao final do mandato. O eleitor se esquece que personas mudam, mas o legado fica.

“Eleição não se ganha, se toma”!!! Essa foi a fala de um ministro do STF que, por si só, já esgotaria o tema. A mais alta corte do país entende que as eleições não precisam ser limpas. A autoridade eleitoral é contrária ao aumento de transparência, vendendo a ideia patética de que temos a melhor tecnologia do mundo em sistemas de votação, definitiva e inviolável. Num país onde tudo é lento, lerdo, engessado, somos capazes de “apurar” 120 milhões de votos em 3 horas. Para mim, a eleição poderia passar a acontecer no dia 1º de abril.

 

* * *

A vida realmente não é justa.

Já escrevi nesse mesmo espaço que, particularmente nunca vi em Neymar um expoente da constelação vip dos grandes nomes do futebol mundial. Em 2017, sua transferência do Barça para o PSG foi mais alta transação da história do futebol. Na época, falava-se em algo como 10 mil euros mensais entre salários e contratos de publicidade.

Mas Neymar não estava feliz e decidiu aceitar a proposta do Al-Hilal, da Arábia Saudita, pelas próximas duas temporadas. Com a transferência, seu salário passou para míseros R$ 71,8 milhões por mês. R$ 2,4 milhões por dia. Acha pouco, leitor? Tá bom então. Vamos lá: o menino Ney ganhará também cerca de 500 mil euros (R$ 2,7 milhões) por cada story ou postagem elogiosa que promova a Arábia Saudita nas redes sociais. Ah, já ia esquecendo: mais 80 mil euros (R$ 430 mil, na cotação atual) por cada vitória vestindo a camisa do Al-Hilal.

Depois de ficar tonto com esses números, tenho que escutar a crônica esportiva do Brasil inteiro dizer que, na Arábia, Neymar sairá da vitrina do futebol e talvez nunca mais vista a camiseta da Seleção Brasileira. Ele, inclusive, não está conseguindo dormir à noite, com tamanha preocupação…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 18/8/23

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