A vida é um presente

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O ano em questão era o de 1980. Para mim, tempos de estudar muito, passar fins de semana entre livros e cadernos, demonstrando teoremas e realizando cálculos, com o objetivo de concluir o Curso de Matemática e entrar para o universo encantado dos professores habilitados.

Mas, é claro, também havia momentos de boa diversão, porque éramos jovens e precisávamos. Além disso, tínhamos aprendido que, naquela fase da vida, estudar muitas horas a fio sem breves períodos de descanso seria contraproducente. “Sem pausas para o lazer, a distração chegará naturalmente, pessoas e lugares começarão a desfilar pelas equações, atrapalhando todo o esforço”, dizia um dos nossos professores, do qual nos tornamos convictos seguidores.

Eis que, em uma daquelas incontáveis tardes de sábado ocupadas com estudos, na casa de uma colega e grande amiga, em Porto Alegre, ficamos sabendo que haveria um show do MPB4, no Teatro Leopoldina, e os gaúchos Kleiton e Kledir fariam apresentação especial. Iniciando uma turnê pelo Brasil.

Decidimos, sem titubear, que tentaríamos comprar ingressos. Fechamos livros e cadernos, pegamos as bolsas e fomos até a bilheteria do Teatro Leopoldina, que ficava na Avenida Independência.

Chegando lá, o atendente nos deu duas informações que não queríamos ouvir: o preço dos ingressos e que, de toda forma, já estavam esgotados. Explicamos que os nossos últimos fins de semana tinham sido de estudos, aquele show seria um prêmio pela nossa dedicação. Ele se mostrou pensativo, e nós ficamos ali, quietas, aguardando um sopro de esperança. Dali a pouco, ele nos pediu a carteira estudantil e disse que cobraria metade do preço, mas teríamos que nos sentar na escada de acesso à plateia. Em alguma brecha que houvesse, porque seriam ocupadas por outros estudantes. Aceitamos e assistimos o “baita” show, que se tornou inesquecível para mim.

O ano em questão, agora, é este, de 2022. Bem acomodada na plateia do Teatro do Bourbon Country, no sábado, 12 de março, acompanhada por meu marido, assisti o show do MPB4 com Kleiton e Kledir, em comemoração aos quarenta anos da primeira turnê que fizeram pelo País. Deveria ter sido em 2020, mas a pandemia não permitiu. Com saudades, lembrei da colega e grande amiga, do Teatro Leopoldina que já não existe, da explicação na compra presencial de ingressos, da permissão para sentar nas escadas. Sobretudo, do sábio conselho daquele nosso professor.

E pensei na beleza que foi, e ainda é, ouvir os seis artistas no palco cantando junto “vou voltar na primavera, era tudo que eu queria, levo terra nova daqui…”.

A vida é, mesmo, um presente!

 

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 18/3/22

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