Ela levava uma vida sossegada. Gostava de sombra e água fresca. Mas agora… desculpe o auê, caro leitor: eu não queria magoar você. Mesmo sabendo que nada melhor do que não fazer nada, o corpo franzino que por mais de sete décadas transportou o imenso talento de Rita Lee para lá e para cá pelo universo único da Música Brasileira, já demonstrava sinais de cansaço. Vinha dizendo coisas como ‘da próxima vez eu me mando, que se dane o meu jeito inseguro’. Pois então, na noite da última segunda feira ele resolveu fazer greve de fome, guerrilhas, motins… e se libertou daquela vida vulgar.
No final dos anos 70, num momento ‘adolescência vazia’, eu costumava garimpar LP’s nas principais lojas de discos de Porto Alegre. Em tempo: quem tem menos de 30 anos talvez não saiba que LP é a abreviatura de Long Play, um disco de vinil, preto, que continha, em média, 14 músicas, sete de cada lado. Sim, era preciso virar o disco para ouvir os dois lados. Pois então, eu vasculhava essas lojas mesmo que não tivesse dinheiro para comprar um LP sequer. No entanto, as lojas disponibilizavam vários ‘toca-discos’ fixos num balcão ou numa cabine, com fones de ouvido tipo ‘abafador’. Era um aperitivo para que os consumidores pudessem escutar os discos antes de adquiri-los. E foi assim que pesquisando o movimento tropicalista da época, descobri uma irreverente banda paulista de rock psicodélico chamada “Mutantes”. Na época, um trio formado por dois irmãos cabeludos e uma menina. Uma menina tocando guitarra elétrica??? Sim, uma paulistana legítima: magra, ruiva, míope. Era ela. Uma das mais importantes e influentes mulheres do mundo da música. Seu pai, naquele momento, pensava: “minha filha é um caso sério. Ela anda cheia de mistérios com esse tal de Rock’n roll”…
Viva e cheia de graça, Rita Lee fez um monte de gente feliz. E numa das suas mais belas composições, “Coisas da Vida”, profetizava: “Depois que eu envelhecer, ninguém precisa mais me dizer, como é estranho, ser humano nessas horas, de partida…”
Enfim, o Pastor levou a sua ovelha negra!!!
* * *
Está difícil ser gaúcho e gostar de futebol ao mesmo tempo. A dupla Gre-Nal disputa o ‘Troféu Fiasco’ com unhas e dentes a cada nova rodada. Já vai longe o tempo em que gremistas e colorados sentiam orgulho pelo que seus clubes faziam pelo futebol brasileiro. No ‘país da bola’, o Rio Grande do Sul conseguiu criar uma identidade própria, em que disciplina tática, luta e técnica faziam inveja aos chamados ‘grandes’ do eixo Rio-São Paulo-Minas.
Antes paparicados e desejados, os treinadores gaúchos sucumbiram na mediocridade. Inclusive nas vexatórias derrotas em Copas do Mundo. Torcer para o futebol do sul sair do buraco em que se meteu é torcer pela diversidade do futebol brasileiro. Diante do atual cenário, os times gaúchos são insuficientes para nos fazerem sonhar com qualquer possibilidade de ganhar alguma coisa acima do Rio Mampituba. A desorganização de ambas as cores, dentro e fora das quatro linhas, está evidente há muito tempo.
Sem gaúchos fortes, o futebol brasileiro fica mais pobre. Pensemos nisso antes de celebrar a agonia de Grêmio, Inter, Juventude, Caxias, Brasil de Pelotas…
* * *
Domingo é o dia delas. Domingo é dia de Maria. Domingo é dia daquelas heroínas que não vestem capa e que tomam como delas os filhos das outras. Mãe branca, mãe preta, mãe de santo, mãe emprestada. Não importa a cor nem a idade. Não importa o gesto. Elas são todas superpoderosas.
Daniel Andriotti
Publicado em 12/5/23