A primeira lembrança que tenho desta vida foi o dia em que conheci o mar. Segurando a mão de meu pai, descobri a imensidão da beleza e a inquietação do mistério. Minha aventura estava começando. Depois daquela manhã em Torres, com quatro anos de idade, nunca mais deixei de tentar descobrir o que há por trás do horizonte, mas nem por isso deixei de pular as ondas. Pular as ondas foi o primeiro ensinamento que recebi do meu pai.
Não demorou muito para eu entender a família como um porto seguro. Aos poucos, comecei a conhecer o mundo e a sociedade.
A escola e a professora Litze, as brincadeiras e a cumplicidade dos irmãos, a estrada e o Renault Juva, a bola e o jogo, a árvore e a visão de cima, a música e a alma, o céu e o voo, o cão e o amigo, a bicicleta e a aventura, a leitura e a história, o cinema e a viagem, a Igreja e Jesus, os pais e a segurança, a luz e o claro, o escuro e o medo, a festa e o bolo, os tios e os primos, a rua e os vizinhos, os muros e o limite, o Natal e a alegria, a Páscoa e o recomeço, a água e a chuva, o sentimento e a emoção, o riso e o choro.
O gogó apareceu de manhã e a voz desafinou; a juventude havia chegado. Então, a primeira coisa a fazer era tentar mudar o mundo, a segunda, também. E ainda tinha que me preparar para uma profissão, lutar por liberdade, ajeitar os cabelos, vestir jeans, beber cerveja de montão e filosofar nos botecos do Bom Fim. Trabalhar duro para pagar a PUC, me emocionar com o futebol e com o rock and roll, driblar as encrencas, colocar gasolina no carro, namorar, fazer festa com os amigos e comer massa com sardinha. Neste contexto, acampei na praia, pedi carona na Freeway, dormia o domingo inteiro, devorava as histórias do Clube do Livro, fazia planos e curtia a vida. Foi intenso.
A Lua e o Sol se revezaram muitas vezes e os hormônios se aquietaram. Eu tinha me tornado adulto. Professor de Inglês, o teacher. Uma pilha de contas pra pagar e um apartamento vazio para mobiliar à espera de uma nova família. Então conheci a Cris e logo me casei. Dois anos mais tarde veio a Luana, que me transformou em pai.
Diante de novo momento marcante da vida, meu pai estava lá para comemorar e alertar sobre a responsabilidade. Era minha vez de ser o contador de histórias, o herói para correr o bicho papão, o protetor a evitar o tombo e a queimadura. Era a minha vez de apresentar o mar para minha filha e pular as ondas com ela. Era minha vez de ser o guardião a evitar problemas, o motorista da ambulância, o guia turístico, o vigilante e o inventor de soluções.
Em meio ao desafio de ser pai, descobri que os problemas são capítulos tensos que fazem parte da história e que funcionam como degraus. A subida é puxada, mas fica mais fácil com o primeiro cartão do Dia dos Pais.
No dia 18 de maio de 2012, por volta das 20 horas, no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, conheci a Isabela, minha neta. Mais uma de mim, mais um presente de Deus; pai ao quadrado. Em meio à emoção daquele momento mágico senti, a presença do meu pai. Apesar de já estar em outra dimensão, ele estava lá para celebrar comigo. Naquele dia, descobri que pai é presença.
A Carta dos Pastores
Na semana passada, abordei aqui na Coluna sobre o valor de R$ 125 mil que a Prefeitura de Guaíba pagará para o show do cantor Fernandinho no evento do Dia da Bíblia. Ressaltei que não conheço o cantor, portanto não questiono o cachê. Foquei na questão do valor alto para apenas um show pago com dinheiro público. Destaquei que, considerando a Obra de Jesus, acredito que Ele diria para usar este dinheiro na melhoria dos casebres nas regiões onde há miséria em Guaíba. Por fim, manifestei meu entendimento de que shows nacionais e internacionais em municípios do porte de Guaíba, com vários problemas sociais, deveriam ser financiados com recursos privados.
Essa semana, recebi uma Carta do Conselho de Pastores Evangélicos de Guaíba (COPEG) e da Federação Sul Brasileira de Ministros e Leigos Evangélicos. Os pastores que assinaram a carta ressaltaram o trabalho realizado pelas igrejas evangélicas, tanto em relação à questão espiritual e assistencial quanto material.
A carta destaca, também, que para otimizar custos, foi resolvido, juntamente com o poder público, juntar dois eventos: A Marcha para Jesus e o Dia da Bíblia. O texto enfatiza que vários municípios têm contratado o cantor mencionado pelo mesmo valor de mercado. A COPEG informou que conseguiu duas emendas parlamentares que irão cobrir o valor de R$ 150 mil.
A manifestação dos pastores observa que o orçamento da Setudec beneficia eventos como Carnaval, Semana Farroupilha e outras festas e concentrações religiosas em Guaíba, atraindo turistas e movimentando a economia local.
Agradeço os esclarecimentos dos pastores e reconheço a relevância do trabalho das igrejas neste mundo tão conturbado. Entretanto, espero que minha abordagem sobre o tema em pauta não seja encarada como uma crítica impulsiva, mas como reflexão necessária no contexto cristão.
Leandro André
leandro.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 11/8/23
Lindo texto sobre paternidade!