Impossível não ficar angustiado com as notícias que chegam sobre esse conflito entre Rússia e Ucrânia. E nós, brasileiros, temos alguma coisa a ver com isso? Por enquanto, não. Melhor assim. Mas as sequelas deixadas por uma guerra sempre abalam o mundo. Não importa em que lugar dele a gente esteja. No entanto, nessa vida, há que se tirar alguma lição de tudo, mesmo nos piores momentos.
A primeira delas – e esse é um ano eleitoral – jamais brinque com o seu voto. O povo ucraniano escolheu um apresentador de TV para a presidência do país, sem experiência política, mas com viés progressista. Até aí tudo certo. Só que ele tomou decisões erradas, como defender o desarmamento e se aliar à OTAN, uma organização militar intercontinental de defesa mútua e coletiva, famosa por ficar em cima do muro diante de grandes conflitos. Como se não bastasse, acreditou em países e governos fracos como aliados. Deu no que deu…
Dois: permitiu que Vladimir Putin se fortalecesse como o mais temido líder mundial. Um tirano que há algum tempo estuda a fraqueza do ocidente e aguardou pacientemente o momento do bote. Inseriu no seu jogo as também poderosas forças chinesas e flerta com o perigosíssimo mundo islâmico para instaurar o terror no planeta. Acredite, leitor: isso não vai parar por aí…
Terceira: a Europa fraquejou e agoniza política e economicamente. Já sabe que vai amargar uma imensa crise energética (boa parte dos seus países são dependentes da Rússia nesse setor) e terá que lidar com uma gigantesca imigração de ucranianos. Há algum tempo o foco dos intelectuais europeus deixou de ser a geopolítica para se transformar em papo de boteco: enquanto suas lideranças dizem “Garçom, traz mais uma que estamos discutindo a importância dos banheiros unissex, a produção de alface orgânica e os riscos dos ‘puns’ que as vacas soltam para o aquecimento global”, a Rússia, a China e o islamismo radical se preocupam com a chamada “nova ordem mundial”, de estratégias de poder e dominação.
E os EUA, quem diria, desmoralizados diante de uma guerra!!! Além de vivenciarem os mesmos problemas de alienação política-ideológica da Europa, estão à deriva com tanta hipocrisia globalista levada a cabo pelo partido democrata. Os americanos saem derrotados dessa guerra sem terem dado um único tiro. O mundo percebeu que os EUA não têm mais condições de protegerem a si mesmo, quanto mais, o planeta. O resultado disso será um realinhamento de outros países que correm por fora desse conflito – como o Brasil, por exemplo – a partir de um novo eixo desse poder formado por Rússia, China e nações islâmicas. Isso será, talvez, o mais duro golpe na economia norte-americana de todos os tempos…
E nós, com isso?!?! Embora o Brasil tenha um histórico de neutralidade e de condenação à invasão da soberania de outros países, estamos percebendo que a Europa, desesperada, olha com cobiça para a Amazônia. E nunca negou que quer porque quer tomar nossos recursos naturais. Os EUA nunca declararam uma linha em favor do Brasil. Mas China e Rússia demonstraram apoio na questão da Amazônia e sorrateiramente costuram algum tipo de aproximação em se tratando de economia de mercado. Bem ou mal, hoje é mais fácil vender para a China do que para a burocracia americana cheia de entraves. A Europa é outra, que tem preconceito contra os nossos produtos e taxam demasiadamente nossas importações…
Conselho: esqueça toda aquela necessidade que você tinha de falar inglês fluente. Matricule-se num cursinho rápido de russo e de mandarim….
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E sobre o Gre-Nal que não teve, duas palavras: vergonha e barbárie. Para ambas cabe um adjetivo complementar: hipocrisia.
Daniel Andriotti
Publicado em 4/3/22