Das quatro operações matemáticas que aprendemos nos primeiros anos de escola – adição, subtração, multiplicação e divisão, as mais fáceis sempre foram a adição e a multiplicação. As outras duas, subtração e divisão, gozavam de antipatia natural, empregavam complicações em nossos temas de casa. Provavelmente porque desde muito cedo aprendemos, com a própria vida, a associar o verbo agregar ao substantivo bem-estar; enquanto o subtrair, ao contrário, costumava andar de braços dados com a ideia de perda.
Naqueles tempos em que sequer tínhamos uma década de vida, nos divertíamos resolvendo problemas escolares, especialmente aqueles que perguntavam sobre a quantidade de laranjas que havia no cesto sobre a mesa da cozinha, sabendo que lá já estavam três e a mãe colocara mais quatro do pomar. Ou quantos bombons teríamos se ganhássemos três caixas com 16 bombons cada uma.
Contudo, quando o texto dizia que o irmão mais velho fizera um suco com seis laranjas, saber quantas restaram no cesto já não era tão agradável de responder. Se o caso proposto pela professora fosse dividir a caixa com dezesseis bombons entre os quatro irmãos, então, ficava impossível não dar umas mordidas no lápis.
E dos dias de decorar poesias para recitá-las em sala de aula, de observar feijão brotando no algodão molhado; de mapas riscados em papel manteiga e aulas de religião, ficou o gosto diferenciado pelas quatro operações matemáticas – somar e multiplicar continuou sendo mais fácil e divertido do que diminuir e dividir.
Eis que, na dura realidade que se apresentou diante de nós, nestes tempos de enchentes e perdas dramáticas, a matemática da alma entrou em cena para auxiliar na solução do imenso problema.
O nosso tema de casa foi exercitar o desprendimento e a solidariedade, a bondade e a esperança, o amor universalizado. Para aprendermos, o quanto antes, que a divisão da alegria, a distribuição de palavras gentis e a entrega dos nossos corações sempre resultarão em ganhos. E que jamais seremos subtraídos em felicidade e paz de espírito enquanto estivermos distribuindo ondas de energia positiva ao mundo, doando um pouco do que temos, da nossa tolerância, do amor pela vida que irremediavelmente nos envolve, do nosso trabalho feito com entusiasmo.
E daquelas quatro operações matemáticas que aprendemos nos primeiros anos de escola, adição, subtração, multiplicação e divisão, com as quais costumávamos resolver problemas de frutas e bombons antes mesmo da nossa primeira década de existência, ficaram valiosas lições depois da tragédia que nos abalou.
A mais importante foi compreender que, para a matemática da alma, em se tratando de somar e multiplicar, o verbo a ser conjugado é dividir.
Cristina André
Publicado em 14/6/24