Houve um tempo, todo feito de juventude, em que eu não tinha muito apreço pelos invernos. Das quatro estações, ficavam na lanterna das minhas preferências. Outonos, em penúltimo lugar. Verdade seja dita, naqueles dias, queria que o ano fosse feito somente de verões, com sol forte batendo na face, dias longos de praia e relógios invadindo as madrugadas. Mas isso já faz muitas primaveras, aprendi a gostar de todas as estações. Em especial, das mudanças que implementam na rotina.
Eis que chegou mais um inverno, faz frio outra vez. Casacos e mantas de tricô ocupam lugar de destaque nos armários, pantufas e cobertores reaparecem. Caixa de lenha, abastecida, se acomoda bem perto do fogão; há pinhão cozinhando e água quente na chaleira.
As noites, agora, são feitas de gente em casa e ruas vazias; resquícios de agitação e festas, carregados pelos ventos que assobiam. Lareiras estão acesas, cálices de vinho tinto fora das cristaleiras, livros e filmes, tudo é bem-vindo desde o outono.
Houve um tempo em que eu gostava muito mais do verão, era a minha estação favorita. Por seus dias ensolarados, de conversas nas calçadas, cadeiras de praia, água gelada e sorvete. Chinelos-de-dedo e roupa leve, cara lavada de suor, céu estrelado. Sonhava com um ano todo assim, sempre com dias de calor, de férias longas e muita praia. Mas isso foi em outros tempos, várias primaveras atrás. Aprecio, agora, cada estação que chega, com suas peculiaridades quebrando a rotina, desafiando nossa convivência.
Eis que o inverno está posto outra vez, com o frio, que é sua especialidade, sempre nos sugerindo a casa. Em seus dias de chuva e ventania, o aconchego do lar é nossa grande riqueza, lugar de corações se aquecendo, sono embalado aos sons da Natureza, hibernando sob mantas e cobertores.
Houve um tempo, quando a vida parecia ser toda feita de juventude, em que eu recebia o inverno sem entusiasmo, contando os dias para que o verão retornasse. Mas isso foi em outras primaveras. Hoje, reconheço o privilégio de viver neste lugar sulista, com as quatro estações se alternando, cada uma com suas características.
Eis que os dias ficaram frios, chuvosos e com ventanias. As noites, maiores, agora têm sopa para o jantar, arroz-de-leite na sobremesa; chá de limão com mel, leite quente com canela. Nas madrugadas desertas, ninguém pelas ruas.
Estamos no inverno, a estação do aconchego caseiro.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 24/6/22