Se existe uma unanimidade entre os seres humanos ela diz respeito à dor da perda. Quando se trata de alguém que já viveu muito, ou de uma pessoa que vinha sofrendo e diagnosticada por um quadro de doença irreversível, a dor da ausência, vamos admitir – por vezes – é menos intensa, embora a saudade seja eternamente avassaladora. Mas quando um jovem, saudável, cheio de energia e que se preparou para ter um futuro promissor pela frente perde a vida por conta da prepotência e do egoísmo de quem não tem apego a nada, a revolta humana beira ao insuportável. Quando se trata de uma criança…
Três casos da categoria soco na boca do estômago: há 15 dias, uma médica carioca de 34 anos – portanto, uma pessoa que estudou praticamente toda a sua vida para salvar a vida dos outros – foi assassinada na Linha Vermelha no Rio de Janeiro. Ela levou dois tiros na cabeça após uma tentativa frustrada de assalto. Corta para o Rio Grande do Sul: semana passada, aqui na Região Carbonífera, um policial de 40 anos que trabalhou nas delegacias de Tapes e de Guaíba, foi alvejado por um menor de idade reincidente em homicídios durante uma operação de busca e apreensão. Domingo, na BR-116, em Guaíba, uma criança de 10 anos foi assassinada, não por tiros, mas por um automóvel conduzido por um motorista bêbado e com o direito de dirigir suspenso, num acidente que deixou outra pessoa ferida em estado grave. Nos três casos – entre tantos que ficamos sabendo por aí – ambos os assassinos tiveram a intenção de matar.
Chora a família, choram os amigos, chora a pátria mãe gentil. E os assassinos? Talvez sejam presos. Talvez não. No entanto, a grande maioria das vítimas que morre nas mãos dessa estirpe de criminosos é gente do bem. Que trabalha e produz. Não são pretos. Talvez pobres. Não são militantes de partidos políticos de esquerda. Não frequentam os círculos LGBTQI+. Não são do MST e nem dos movimentos sindicais. Não pertencem aos programas de cotas e de assistência do governo federal. Portanto, não preenchem os requisitos necessários para uma mobilização nacional. Tão pouco sensibiliza a atenção dos Direitos Humanos (ou Direito dos Manos???). As vítimas que morreram, assim como eu e você, não são ninguém. Quando um bandido morre num confronto, não são poucas as vozes que se erguem condenando a truculência policial…
Há um livro de Gibran Khalil Gibran chamado ‘Temporais’. Num determinado capítulo ele conta a história de um padre que vem caminhando solitário por uma estrada deserta. Lá pelas tantas, ele encontra o demônio caído na valeta, todo estropiado, agonizando. E então o diabo lhes diz: “Por favor padre, me ajude!!! Me leve até alguém que possa me salvar”. O padre solta uma estrondosa gargalhada e responde: “Eu quero que você morra nesse valo imundo, seu desgraçado!!!” E o demônio: “Se eu morrer, a quem os seus súditos irão temer?”. E o padre, após pensar por alguns segundos, coloca o demônio nas costas e o leva até um hospital.
A política ideológica tem dessas coisas. Às vezes é preciso cuidar bem do demônio…
E os bandidos??? Ah, eles passam bem, obrigado!!!
Daniel Andriotti
Publicado em 31/1/25