A Dor da Perda – parte II

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Semana passada o título dessa coluna foi “A dor da perda”, texto que eu havia escrito na terça-feira. Quinta, jornal impresso, eu estava no interior do Paraná quando recebi uma notícia que refletiu literalmente aquele título: morreu Manoel Stringhini, o ‘seu Maneca’.

Gentil, generoso, educadíssimo e carismático, dono de uma paciência amazônica e de uma memória implacável para boas histórias, cuja dialética lhe permitia contar todas elas nos seus mínimos detalhes. Em 1970, Stringhini foi o responsável por intermediar a negociação entre os noruegueses da Borregaard e a família Cirne Lima, sucessora dos Chaves Barcellos e donos da fazenda Barba Negra, em Barra do Ribeiro. Depois, foi convidado a trabalhar na empresa onde ocupou o cargo de superintendente florestal da então Riocell até meados dos anos 80.

Em março de 2002, quando a empresa completou 30 anos em Guaíba, Maneca exercia o segundo ano do seu primeiro mandato como prefeito. E eu era um dos responsáveis pela editoria e produção do jornal A Garça, veículo de circulação interna e periodicidade mensal da Riocell. E decidimos fazer uma edição especial contando a trajetória da empresa naquelas três décadas. E é claro que o roteiro precisava ser descrito por pessoas que ajudaram a escrever a sua trajetória. E então entrevistei Aldo Sani, ex-diretor superintendente; Antônio de Lisboa Mello e Freitas, ex-diretor de Relações Públicas e Assuntos Estratégicos; José Armando Farah, ex-Consultor Jurídico e dono do crachá número 001; José Antônio Lutzenberger, ambientalista e idealizador do inédito processo de reciclagem de resíduos sólidos industriais da fábrica (que me concedeu a entrevista duas semanas antes de partir e, portanto, já com a saúde bastante debilitada num leito da Santa Casa de Misericórdia) e, é claro, ele: Manoel Stringhini!!!

A entrevista com ‘seu’ Maneca durou uma tarde inteira no seu gabinete na prefeitura. Ele lembrava sem qualquer dificuldade dos nomes e sobrenomes (alguns impronunciáveis pela sequência de consoantes) de todos os noruegueses com quem trabalhou. Gravei tudo em três fitas K-7, dos dois lados, e levei dias para compilar a riqueza daqueles detalhes, exercendo meu poder de síntese para acomodar tudo numa página central. No dia seguinte ao da entrevista, seu Maneca me telefonou de manhã cedo para dizer que, durante à noite, havia selecionado entre as suas memórias ‘algumas’ (muitas) fotos impressas em preto e branco para que eu pudesse ‘enriquecer’ a matéria. Antes de enviar o material para a gráfica, perguntei se gostaria de dar uma ‘olhadinha’ no texto para uma revisão final. E ele disse: “Não precisa. Confio em ti”…

Depois daquela entrevista, nossa relação de amizade – que já era boa – aumentou sensivelmente. Ele se tornou meu leitor aqui na Gazeta. Sempre que me encontrava na rua comentava e elogiava os meus textos. Alguns publicados há meses, inclusive. E, rindo, dizia que só não gostava quando eu falava mal do Grêmio…

Definitivamente, depois da última quinta-feira, as mais simbólicas e emblemáticas histórias de Guaíba perderam parte daquele encanto saudosista com a partida do seu mais ilustre interlocutor.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 7/2/25

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