A culpa é do ‘staff’

0
COMPARTILHAMENTOS
70
VISUALIZAÇÕES

Minha filha diz que sou um conservador para ouvir e, talvez por isso, gostar das músicas que surgiram depois dos anos 90. Nunca havia parado para pensar nisso. Prometo fazê-lo em breve… e depois, contar aqui.

Mas admito que sou um conservador irrecuperável no futebol. Há cerca de 20 anos, a camisa 10 num time não poderia ser vestida por qualquer um. E, para chegar à seleção brasileira, o jogador precisava demonstrar uma qualidade muito acima da média. A pressão de patrocinadores e empresários junto à CBF tinha pouco poder de decisão nas convocações. Mas de um tempo para cá, tudo mudou. E não por acaso o Brasil desconhece o que é ganhar uma Copa do Mundo há 19 anos.

Corta a cena para os dias atuais: qualquer jogador mediano faz algumas atuações que pautam os programas esportivos e o assunto chega aos ‘convivas’ na mesa do bar. Não mais que isso. Esse jogador – repito, mediano – tem um bom empresário. Ou dois. Ou três. E tem também procuradores, agentes, representantes. Juntos e com o ‘apoio’ de algum cronista, mais o ‘aceno’ de uma multinacional de material esportivo, ‘sugerem’ que o treinador da seleção convoque aquele atleta para um amistoso qualquer. Não precisa jogar. Basta fardar e ser filmado e fotografado no banco de reservas. Pronto. É hora do seu ‘staff’ entrar em campo. No dia seguinte, seu nome estará escrito na história do futebol mundial. E isso faz toda a diferença no currículo. Do atleta, do time em que ele joga, do mercado da bola, ‘daquele’ comentarista esportivo, dos empresários, procuradores, agentes, patrocinadores. E, é claro, o valor do seu passe muda de patamar e será inevitável a venda para um clube europeu, onde muitos euros respingarão na conta bancária de toda essa gente.

Um exemplo recente: o ex-colorado Tiago Galhardo. Rodou pelo Madureira, Red Bull, Coritiba, Ponte Preta, Albirex Niigata (Japão), Vasco, entre outros. Sempre foi um jogador mediano ou nem chegou a tanto. Pois, quando estava no Internacional, após marcar alguns golzinhos em sequência, foi ‘lembrado’ por Tite. Viajou para o Uruguai com a delegação, vestiu o uniforme e, para nossa alegria, não entrou em campo. Dias depois, choveram propostas. Hoje, é reserva do Celta de Vigo, da Espanha, treinado por Eduardo Coudet.

Tenho assistido a alguns jogos do Brasil e devo confessar que vejo jogadores que eu nem sabia que existiam vestindo a antológica ‘canarinho’. Talvez a culpa disso seja a minha própria falta de tempo (e de paciência) para os campeonatos europeus. E então, ali, com a mesma camisa que já foi de Pelé, Garrincha, Rivelino, Zico, Falcão…, estão atletas como Renan Lodi, Bruno Guimarães, Douglas Luiz, Antony, Artur Cabral e um gaúcho de Porto Alegre, da Restinga, chamado Raphinha.

Será tudo culpa do staff?…

 

* * *

O Grêmio segue em passos apressados rumo à segunda divisão, pela terceira vez na sua história. Ninguém poderia imaginar – lá em janeiro – que o ano seria tão frustrante para o torcedor gremista diante do que se anunciava. Diversas competições com reais chances de títulos graças à qualificação do grupo de jogadores e só o troféu do Campeonato Gaúcho na estante.

O Inter, nem isso. Pior do que ganhar o ‘Gauchão’ é não vencer o ‘Gauchão’. A diferença é que o Colorado, pelo menos, não corre mais risco de rebaixamento e, talvez, garanta uma vaga na Sul Americana. Libertadores, só se for na repescagem. Caso não tivesse ‘ganhado uma gordurinha’ na primeira metade do campeonato, estaria abraçado ao co-irmão nas portas do inferno.

Definitivamente, a bola pune.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 26/11/21.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine o jornal digital da Gazeta Centro-Sul e leia de qualquer lugar! Acessar X