O futebol brasileiro anda muito chato. À beira do insuportável. E não é só pela baixa qualidade técnica dos jogadores, dos times ou das arbitragens que, por consequência, produzem jogos medíocres. O que muito tem me incomodado, além dessa ruindade no conjunto da obra, é a ‘cera’ – a velha e boa catimba desproporcional de alguns atletas. Isso, é lógico, quando o resultado lhes interessa…
Vamos começar pelos goleiros. A moda é: cada defesa, uma sentença? Não. Cada defesa é uma lesão de ombro, mesmo que o ombro não tenha sido impactado no lance. O pioneiro nesse tipo de ‘teatro’ nem joga mais no Brasil: Marcelo Grohe, ex-Grêmio, foi o único goleiro que vi ser expulso até hoje por esse tipo de atitude. Num jogo pelo Campeonato Brasileiro de 2017 contra o Atlético-PR, retardou tantas vezes a reposição da bola em jogo – incluindo a fatídica ‘lesão no ombro’ – que o juiz perdeu a paciência. E, nesse caso, quem conhece um pouquinho das regras sabe que o juiz precisa parar o jogo sempre que o goleiro estiver caído necessitando de atendimento. E ultimamente, eles estão sempre caídos, precisando de atendimento.
Por falar nisso, aquele líquido que sai das garrafinhas com a logomarca da Gatorade é miraculoso. Dizem que é água. Eu não acredito. Isso porque basta os médicos e massagistas espirrarem um jato do produto no local da lesão que a cura é imediata. Agora vamos para a turma que ‘joga na linha’: por mais leve que seja aquele ‘encontrão’ – disputa normal pela bola – vem a queda e o grito desesperado de dor. Detalhe: o lance nem era para tanto. Mas o jogador fica ali, estatelado, imóvel e abraçado na bola. O juiz, evidentemente, pára o jogo. Então, começa aquele empurra-empurra em volta ‘da vítima’. Nessa hora, algum adversário ‘mais distraído’ pode até pisotear na mão de quem ‘sofreu a falta’. Entra o carro-maca. Entra o médico. Entra o massagista. Líquido miraculoso no lesionado. E o jogo parado. Um minuto, um minuto e meio. O ‘agredido’ é colocado na maca. Um colega de time ajeita a bola preparando a cobrança da falta (que não existiu). A barreira se mexe. Vai andando em direção à bola. Aquele amontado de jogadores adversários e aliados se engalfinhando na mesma barreira. Alguém cai. O juiz puxa o cartão amarelo. Nisso, um ‘pé esperto’ desloca a bola do local onde tinha sido carinhosamente ajeitada para a cobrança da falta (repito, que não existiu). O cobrador reclama. Ajeita novamente a bola. Todos discutem. O juiz ameaça. E o jogo parado… dois, três minutos. O lesionado, assim que a maca cruza a linha lateral, recupera-se imediatamente e pula do carro ainda em movimento. Acena para o juiz. Quer voltar. E o tempo passando. E o torcedor pagando caro para ver tudo aquilo…
Por falar em torcedor… quem não faz parte de torcidas organizadas tem pouca simpatia por elas. Até a década de 90 eram, digamos, pacíficas. Viajavam por sua conta e risco para acompanhar o time em jogos fora de casa e não tinham peso político nas eleições do clube. De lá para cá, muita coisa mudou. Mais precisamente desde que os holligans ingleses provocaram uma batalha campal na Bélgica, que resultou na morte de 38 pessoas num jogo do Liverpool contra a Juventus. Revestida do conceito ‘manada’, torcida organizada virou rótulo de violência e baderna nas arquibancadas e no entorno dos estádios em dias de jogo. Não por acaso, periodicamente a justiça suspende o ingresso delas nos jogos. Mas recebem lanche, acesso livre ao estádio, viajam por conta do clube, entre outras benesses…
O que me incomoda ainda nas torcidas organizadas – pelo menos do estádio que eu frequento – são os cânticos inoportunos para abafar a vaia que vem das arquibancadas quando algum jogador ou o time todo está mal. Sugestão de dirigentes, é claro, prontamente acatada pelo ‘comando das organizadas’. Isso tudo tem um preço. E é lógico que na hora certa, a conta chega…
Daniel Andriotti
Publicado em 27/5/22